Raymond Cottrell e a Doutrina do Santuário

Quem foi e o que disse o respeitado teólogo Adventista Raymond Cottrell sobre a Doutrina do Santuário e a data de 22 de outubro de 1844.


Erudito, mestre, escritor, editor, historiador, missionário, linguista, Raymond Cottrell (1911-2003) é amplamente reconhecido como um dos maiores teólogos ASD de todos os tempos.

Semelhante a seus ancestrais Albigenses na França, que se arriscaram a ser condenados a morte por suas convicções religiosas em 1179, ele foi um homem de princípios e defensor da liberdade de consciência. Descendente de famílias adventistas da geração de 1851, este homem dedicado a suas crenças, entregou-se em corpo e alma a escrever e editar artigos para a organização.

Como missionário na China e filho de missionários chineses se comprometeu com a visão global da Igreja Adventista, levantando igrejas e pregando a mensagem adventista. Dominava idiomas como o Mandarim, Latim clássico, inglês e o espanhol. Mais tarde estudou grego, francês, alemão e teve um bom domínio do hebraico que lhe serviu para seus estudos relacionados ao livro de Daniel.

Durante 11 anos ensinou religião no Colégio Adventista "Pacific Union College" onde fundou a primeira organização profissional adventista de estudantes da Bíblia. Em 1930 fundou o "College Criterion" na Universidade Adventista da Sierra. Em 1952 fundou o Comitê de Investigação Bíblica da Conferência Geral dos Adventistas do qual foi membro até sua aposentação em 1977. Em 1952 também foi chamado por F. D. Nichol para que fizesse parte dos editores do Comentário Bíblico Adventista. Passando assim a ser o principal arquiteto deste Comentário contribuindo com mais de 2 mil páginas em 7 volumes repletos de material bíblico, histórico e artigos teológicos. Também foi editor e colaborador do Dicionário Bíblico Adventista e da Enciclopédia Adventista.

Durante dez anos colaborou como editor associado da Revista Adventista, revista oficial da organização nos EUA e alguns países de América, e da "Herald Publishing Association". Realizou abundantes investigações sobre assuntos bíblicos, teologia, astronomia e ciência. Em seus últimos anos foi a força guiadora da revista "Adventist Today" onde expunha junto a seus colaboradores todos os assuntos relacionados aos "issues"que estavam a afetar ao adventismo hoje em dia. Através desta revista expunha os problemas da Doutrina do Santuário e as deserções que este assunto tinha provocado dentro da organização. O mesmo relata-nos como foi seu encontro pessoal com a Doutrina do Santuário, vejamos seus comentários:

"A primeira vez que encontrei problemas com a interpretação tradicional de Daniel 8:14, profissionalmente, foi na primavera de 1955, durante o processo de redigir comentários sobre o livro de Daniel para o tomo 4 do Comentário Bíblico Adventista. Como era destinada a cumprir com os mais precisos estandartes eruditos, tínhamos o propósito de que nosso comentário refletisse o significado que obviamente se tinham proposto os escritores bíblicos. Como comentário adventista, também devia refletir, com tanta precisão quanto fosse possível, o que os adventistas creem e ensinam. Mas em Daniel 8 e 9, encontramos absolutamente impossível cumprir com estes dois requisitos.

Voltando ao livro de Daniel, decidi tentar uma vez mais encontrar um modo de ser absolutamente fiel tanto a Daniel como à interpretação tradicional adventista de Daniel 8:14, mas novamente percebi que era impossível. Depois formulei seis perguntas em relação com o texto hebraico do versículo e seu contexto, as quais apresentei a cada um dos mestres de escola superior versados em hebraico, e a cada diretor de departamento de religião em todas nossas escolas superiores da América do Norte – todos eles amigos pessoais meus. Sem exceção, contestaram que não existe nenhuma base, nem linguística nem contextual, para a interpretação tradicional adventista de Daniel 8:14.

As considerações que antecedem demonstram de maneira concludente que nossa interpretação tradicional de Daniel 8:14, o Santuário, e o Juízo Investigativo, como o estabelece o Artigo 23 das Crenças Fundamentais, não reflete com exatidão o ensino da Bíblia, com respeito ao ministério de Cristo, a nosso favor desde seu regresso ao céu. Em conseqüência, é apropriado (1) observar que, por essa razão, o Artigo 23 é defeituoso, (2) revisar o artigo para que reflita com exatidão o ensino bíblico sobre este aspecto do ministério de Jesus, e (3) sugerir um processo planejado para proteger à igreja desta e similares experiências traumáticas no futuro."

Como ressaltam de seus próprios comentários, o Dr. Cottrell não tinha nenhuma intenção de fazer dano à Igreja Adventista com suas descobertas sobre os problemas exegéticos da Doutrina do Santuário. ele sempre procurou a melhor forma de chegar a um acordo entre a cúpula da organização e os teólogos adventistas e resolver o dilema dos 2.300 dias.

Suas investigações tiveram um forte impacto na história e pensamento do adventismo. Muitos entendem que o Dr. Cottrell, através de seus escritos, formou o pensamento de muitos eruditos dentro da organização desde seus anos na Conferência Geral até muito depois de sua aposentação.

O Dr. Cottrell foi quem levou a organização a repensar a doutrina do Juízo Investigativo e a revisar as formulas matemáticas que davam com o ano de 1844. Infelizmente a organização jamais considerou os pontos de vista deste homem íntegro que, ainda sendo pisoteado pela cúpula e com toda uma maquinaria opressiva sobre si, não abandonou a divulgação de suas descobertas teológicos.

Seus livros guiaram a muitos a um melhor entendimento da data de 1844 e a ver quão débeis eram os alicerces sobre os quais estava ancorada a doutrina do santuário.

Suas últimas descobertas sobre estes temas foram apresentadas pela primeira vez no segundo simpósio do Jesus Institute Forum, de 2 a 4 de novembro de 2001, e, em público novamente, em 9 de fevereiro de 2002, na reunião da Associação de Foros Adventistas em San Diego, CA.) Sua conferência teve como título A DOUTRINA DO SANTUÁRIO ATIVO OU PASSIVO? Por esse tempo sua saúde estava bem afetada, não pôde assistir ao simpósio e enviou um representante que deu leitura a seu trabalho investigativo.

A seguir parte dos comentários do Dr. Cottrell neste simpósio:

"Nos anos que se seguiram imediatamente a 22 de outubro de 1844, a doutrina tradicional do santuário foi um importante ativo para estabilizar a fé dos desenganados adventistas. Na atualidade, é um passivo igualmente importante e um obstáculo para a fé, a confiança, e a salvação dos biblicamente instruídos, adventistas e não adventistas por igual. Foi verdade presente após a grande decepção de 22 de outubro de 1844. Não é verdade presente para o ano de 2002 de nosso Senhor. Quod erat demonstrandum! O qual devia ser provado! "

"Durante aproximadamente quarenta anos, a doutrina do santuário não fez encrespar nenhuma sobrancelha conhecida nem levantou protestos. Mas, em média, a cada quinze ou vinte anos, desde 1887, um administrador de Igreja ou instrutor bíblico experimentado, respeitado e digno de confiança chamou a atenção de outros dirigentes da igreja sobre certos defeitos na tradicional interpretação de Daniel 8:14, devolveu suas credenciais ministeriais, e, ou foi desfraternizado ou voluntariamente abandonou a igreja. Com uma ou duas possíveis exceções, nenhum deles falou nem ensinou a respeito de suas dúvidas em relação com a autenticidade bíblica da doutrina do santuário, mas foi despedido por ter tais pensamentos e por compartilhá-los com outros dirigentes da igreja! Ademais, nenhum deles era novato, senão um experimentado administrador de igreja ou instrutor bíblico."

O seguinte comentário que segue tem jamaqueado até hoje a organização e provocou um distanciamento entre a cúpula e o Dr. Cottrell:

"O contexto de Daniel 8:14 atribui a profanação do santuário ao chifre pequeno. A interpretação adventista atribui-a à transferência dos pecados confessados ao santuário celestial pelo ministério sacerdotal de Cristo. Então, pretender, diante de nós mesmos, que a interpretação adventista leia Daniel 8:14 em contexto seria identificar ao chifre pequeno como Cristo. Em outras palavras, não podemos ter ao mesmo tempo o contexto e a interpretação adventista pelo que concerne à Bíblia mesma." (Cottrell, como aparece citado em Daniel 8:14 por Desmond Ford, pp. A-115-116)

Rodeado de líderes conservadores e defensores das doutrinas tradicionais do adventismo, o Dr. Cottrell teve a coragem e o valor de dar sua opinião e pontos de vista que não eram compatíveis com a verdade presente de sua época. Sua contribuição a desenredar a Doutrina do Santuário e sua honestidade em admitir os erros que se desprendem da interpretação tradicional adventista são hoje rasgos que imitam outro tanto de líderes que igualmente a ele, estão a questionar muitas doutrinas da organização e propondo, muitas vezes às escondidas, suas dúvidas e indagações.

Muitos adventistas desconhecem que muitos dos pensamentos teológicos que podem passar por sua mente muito provavelmente tenham vindo dos escritos do Dr. Cottrell. Lamentavelmente foram publicados em nome da organização adventista e como propriedade intelectual dela. A seriedade com a que escreveu e o compromisso que tinha com a verdade não lhe permitiu seguir o passo da organização como ficou demonstrado em suas últimas contribuições desenredando as doutrinas pilares do adventismo.


Original em: http://www.gbasesores.com/observatorio/cottrell

Continue lendo sobre o assunto em:

Raymond Cottrell: Daniel 8:14 e o Juízo Investigativo

Saiba mais em: Raymond Cottrell

2 comentários:

  1. familia Cottrell veio da Igreja de Deus do Sétimo dia e aderiram ao movimento de guilherme Muller em 1850. Esta familia remonta nossos irmãos sabatistas da europa do século X que viviam fugidos pelos vales para escapar da perseguição. Não pe de se admirar que este descendente vai levantar este importante questionamento dentro da seita adventista.

    Evangelista Flávio
    Igreja de Deus do sétimo dia

    ResponderExcluir
  2. http://igrejaadventista.no.comunidades.net/index.php?pagina=1413809727_02 propostas de mudanças quanto a E G White e outros http://igrejaadventista.no.comunidades.net/index.php?pagina=1413957867 EGWhite


    1. Acabar com todos os milhares descabidos e idólatras museus centros whites espalhados em igrejas, hospitais e universidades

    2.Colocar entre parênteses todo escrito de outros autores , como do livro "Caminho a Cristo" 99% de autoria do estilo literário, 90% do DTN, 80% da mensagem de saude, etc

    3. Retirar imediatamente a blasfêmia do nome dela do voto batismal e deixar somente Cristo, de Deus e do Espírito Santo, os únicos a quem devemos confessar devoção

    4. Mostrar a Igreja que não concordamos com exclusivismo, legalismo e focos exagerados em comida, sábado, lei e "dever ser" contido em seus escritos.

    5. Mostrar a Igreja erros terriveis quanto ao juizo investigativo, corrigindo a doutrina contrária a declaração de Jesus de que quem nEle cresse não entraria em Juizo . João 5:24 pois é a justiça de Cristo e não a nossa que já foi julgada e aceita pelos céus. Amém!

    6. Rejeitar E G White quando centraliza na lei e não no ministerio do espirito conforme manda 2corintios 3

    7. Rejeitar EGWhite quando ela desautoriza a palavra de Jesus que disse que o sinal de cura acompanharia seus seguidores, substituindo a palavra de Jesus de Marcos 16:16 por reforma de saude e estimulando todos os memebros a blasfemarem ao atribuirem milagres de outras igrejas a satanás

    8. Rejeitar a doutrina do decreto dominical que produz frutos podres de relevância indevida do sabado (que Jesus não deu tal importancia) feita quando o congresso americano tentava estabelecer o domingo como um dia de guarda, fabricando coadores de mosquitos e engolidores de camelos porque o povo adventista raramente prega as coisas mais importantes do evangelho e a maioria de nós adventistas admitem que ainda não nasceram de novo, e que somos apenas convencidos e não convertidos

    9. Rejeitar com veemência toda ideia exclusivista de E GWHite de que somos o povo dono da verdade, de luz maior que outros, enchendo nossa bola, noisso orgulho (principal pecado de Lucifer) e nos fazendo desprezar cristãos classificando como babilonia (transformando eles em gentios modernos e nós em fariseus modernos)

    10.Outros..

    ResponderExcluir

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"Nenhuma palavra torpe saia da boca de vocês, mas apenas a que for útil para edificar os outros, conforme a necessidade, para que conceda graça aos que a ouvem. Não entristeçam o Espírito Santo de Deus, com o qual vocês foram selados para o dia da redenção. Livrem-se de toda amargura, indignação e ira, gritaria e calúnia, bem como de toda maldade. Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus perdoou vocês em Cristo." (Efésios 4:29-32)

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